Doar sangue é um ato simples e voluntário, que salva vidas. Estima-se que cada doação beneficie até quatro pessoas em tratamentos como cirurgias, acidentes, doenças hematológicas e oncológicas. Além do impacto direto na saúde da população, a cadeia da doação de sangue envolve o setor farmacêutico, influencia políticas de saúde pública, a economia e a gestão de riscos.
A indústria farmacêutica desempenha um papel essencial nesse processo, ao transformar o sangue doado em medicamentos de alto valor terapêutico. A partir da doação, o sangue é processado para obtenção de hemoderivados como albumina, imunoglobulinas e fatores de coagulação.
A albumina é utilizada em casos de queimaduras graves e doenças hepáticas. As imunoglobulinas são aplicadas em deficiências imunológicas e doenças autoimunes. Já os fatores de coagulação são fundamentais para pacientes com hemofilia. Os itens acima não podem ser produzidos sinteticamente, o que reforça a importância de um sistema de doação eficiente e contínuo.
No Brasil, esse processamento é feito por meio do Programa Brasileiro de Produção de Hemoderivados, coordenado pela Hemobrás (Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia). A instituição atua no fracionamento do plasma e na produção de medicamentos estratégicos para o Sistema Único de Saúde (SUS). O processo reduz a dependência de importações e promove a autossuficiência nacional.
Apesar da sua importância, somente cerca de 1,8% da população brasileira doa sangue regularmente. Esse percentual está abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde, entre 3% e 5%.
Os principais fatores que limitam a doação de sangue são a falta de informação e alguns mitos sobre o processo de doação, além do medo de agulhas ou desconforto físico. A inaptidão temporária ou permanente por questões de saúde, como anemia, doenças crônicas ou uso de medicamentos, também é outro fator limitante.
Por fim, a baixa mobilização institucional ou comunitária para a doação de sangue dificulta a iniciativa de possíveis doadores. Campanhas de conscientização, incentivos organizacionais e políticas públicas mais eficazes são fundamentais para superar esses obstáculos.
A ausência de um bom sistema de doação de sangue se reflete em altos custos para o sistema de saúde. A falta de hemoderivados pode atrasar tratamentos, prolongar internações e gerar complicações, que aumentam o custo hospitalar. Por outro lado, o investimento em campanhas de doação é financeiramente viável e de grande retorno social e econômico.
Para empresas e instituições financeiras que atuam em gestão de saúde e compliance*, entender o impacto econômico da doação de sangue significa fortalecer suas estratégias de responsabilidade social corporativa. Essa ação reduz, ainda, riscos operacionais associados à ausência de recursos terapêuticos.
Na área de seguros, especialmente seguros de vida, saúde e acidentes, a doação de sangue também se conecta de maneira relevante. Alguns planos de saúde incluem coberturas específicas para uso de hemoderivados em tratamentos complexos, o que reforça a necessidade de disponibilidade desses insumos.
Além disso, seguradoras podem atuar ativamente em campanhas de doação, como parte de seus programas de prevenção e bem-estar. Tal ação fortalece vínculos com segurados e contribui para a construção de uma sociedade mais saudável.
Em suma, a doação de sangue não é apenas um ato individual de solidariedade: é parte essencial da engrenagem do sistema de saúde. Suas implicações impactam diretamente a indústria farmacêutica, o setor financeiro e as relações com o setor de seguros.
Doar sangue salva vidas e contribui com a sociedade em geral. Ações individuais também colaboram com o fortalecimento de políticas públicas, inovação farmacêutica e boas práticas em gestão de saúde. O impacto é altamente positivo, coletivo e transformador.
*compliance: originário do verbo inglês “to comply” (cumprir), o termo compliance representa o conjunto de práticas e procedimentos que garantem a conformidade de uma empresa com as leis, regulamentos, normas e padrões éticos vigentes, visando garantir a segurança e minimizar os riscos.
Fontes de pesquisa:
– ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar. Manual técnico para promoçãoda saúde e prevenção de riscos e doenças na saúde suplementar. https://www.gov.br/ans/pt-br/arquivos/acesso-a-informacao/participacao-da-sociedade/agenda-regulatoria/agenda-regulatoria-2011-2012/acoes-concluidas/manual_promoprev_web.pdf/view
– Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. (Buscar: “doação de sangue”). https://www.gov.br/anvisa/pt-br/search?origem=form&SearchableText=doa%C3%A7%C3%A3o%20de%20sangue
– Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz. Junho Vermelho: IdeiaSUS realça boas práticas de saúde de incentivo à doação de sangue. Publicado por Katia Machado (Plataforma IdeiaSUS Fiocruz) em 10 JUN 2024. https://fiocruz.br/noticia/2024/06/junho-vermelho-ideiasus-realca-boas-praticas-de-saude-de-incentivo-doacao-de-sangue
– Hemobrás – Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia. https://www.hemobras.gov.br
– Ministério da Saúde – Brasil. Confira 18 tópicos sobre doação de sangue. Publicado em 14 JAN 2025. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-com-ciencia/noticias/2025/janeiro/confira-18-topicos-sobre-doacao-de-sangue
